Brasil registra primeiro caso de gripe aviária em granja comercial
MAPA decreta estado de emergência zoossanitária em Montenegro (RS) por 60 dias

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, nesta quinta-feira (15), o primeiro foco de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em um sistema de avicultura comercial no Brasil. O vírus H5N1 foi detectado em uma granja de matrizes reprodutoras localizada no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. A confirmação laboratorial foi feita nesta sexta-feira (16), pelo Laboratório Federal de Diagnóstico Agropecuário, em Campinas (SP).
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) através da Portaria 795 decretou situação de emergência zoossanitária no município, por um período de 60 dias, cujo prazo e espaço territorial abrangido, a partir da investigação oficial
Desde 2006, o Brasil vinha mantendo a avicultura comercial livre da doença, apesar da circulação contínua do vírus em regiões da Ásia, África e Europa. O episódio marca um ponto de inflexão importante para o setor, considerado um dos pilares do agronegócio brasileiro, com ampla participação nas exportações de carnes e geração de empregos.
O Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Secretaria de Agricultura do RS (Seapi) atendeu à suspeita em 12 de maio, após relatos de síndrome respiratória e nervosa em aves. Imediatamente após a confirmação, foram acionadas as medidas previstas no Plano Nacional de Contingência: isolamento da granja, eliminação das aves restantes e início do protocolo de saneamento. Também será realizada uma investigação epidemiológica em um raio de 10 km, com verificação de possíveis vínculos com outras propriedades. Em paralelo, casos de mortalidade de aves no Zoológico de Sapucaia do Sul também estão sendo analisados, embora ainda sem confirmação de vínculo com o foco comercial.
Apesar da gravidade sanitária, o Mapa reforça que a gripe aviária não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos, produtos que continuam seguros para a população. A principal forma de contágio humano ocorre em casos raros, envolvendo contato direto com aves infectadas vivas ou mortas. Por isso, não há restrições ao comércio ou consumo dos produtos de origem avícola inspecionados.
O impacto imediato do foco sobre o mercado de carnes ainda está sendo avaliado, mas o risco maior se concentra na percepção internacional e nas possíveis barreiras comerciais. Países importadores, sobretudo na Ásia e no Oriente Médio, podem suspender compras mesmo de regiões não afetadas, como medida preventiva. Embora o Brasil mantenha rígidos protocolos sanitários e transparência nas notificações, a confiança dos mercados é um ativo sensível.
A avicultura é um dos setores mais estruturados do agronegócio brasileiro, com histórico de boas práticas e vigilância sanitária contínua. O Serviço Veterinário Oficial (SVO) vem sendo treinado desde os anos 2000 para lidar com a doença, o que ajudou a adiar sua chegada à produção comercial por quase duas décadas. Ações como o monitoramento de aves silvestres, a capacitação de técnicos e a vigilância em pontos de entrada de animais foram fundamentais nesse processo.
Neste momento, o Mapa realiza comunicação oficial com a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), os ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, além de parceiros comerciais, para garantir a transparência e a adoção rápida das medidas de contenção. A prioridade é eliminar o foco e manter a capacidade produtiva do setor, assegurando o abastecimento interno e a continuidade das exportações com credibilidade internacional.
A ocorrência representa um alerta para o setor e reforça a necessidade de manter o rigor sanitário, tanto para evitar novos focos quanto para preservar a posição estratégica do Brasil como um dos maiores exportadores mundiais de proteína animal.