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Chapecó mostra que é possível enfrentar a crise social nas ruas

Modelo implantado em Chapecó é exemplo de que acolhimento, capacitação e reintegração social podem, sim, transformar realidades

11/04/2025, 13:03
Atualizado há cerca de 1 mês
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Por Fabiano Rambo
Unidade de acolhimento foi inaugurada em Chapecó (Foto: Ascom)Unidade de acolhimento foi inaugurada em Chapecó (Foto: Ascom)

Santa Catarina vive uma silenciosa emergência social. O número de pessoas em situação de rua cresceu 76% no estado, segundo levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais. Nas principais cidades, o cenário já é visível e preocupante.

Em Florianópolis, por exemplo, a presença de pessoas em extrema vulnerabilidade deixou de ser pontual e hoje ocupa áreas centrais, inclusive nas proximidades dos prédios do poder público. O que antes parecia isolado, agora escancara uma crise social que não pode mais ser ignorada.

Enquanto isso, na contramão da inércia institucional, Chapecó avança com uma política pública ousada e estruturada. Na última quinta-feira (10), a prefeitura inaugurou a Unidade de Acolhimento para Pessoas em Situação de Rua, ampliando o alcance do programa Mão Amiga, criado em 2022.

Mesmo não estando entre os municípios com maior densidade dessa população, Chapecó tem se destacado justamente pela atuação proativa — mérito, em grande parte, da consistência do programa.

A nova unidade, localizada na linha Tafona, a 9 km do Centro, tem 20 mil metros quadrados de área e foi adquirida de uma igreja por R$2,7 milhões. O espaço foi projetado para receber até 148 pessoas, com alas masculina e feminina, e conta com refeitório, cozinha, banheiros, chuveiros, auditório, campo de futebol, piscina e horta — uma estrutura rara em iniciativas do tipo no país.

Mais do que acolher, a proposta é reintegrar. A prefeitura firmou parcerias com entidades como a FIESC (Federação das Indústrias de Santa Catarina) para oferecer cursos profissionalizantes nas áreas de mecânica, têxtil, artesanato e serviços. E, para garantir autonomia e adesão ao programa, os participantes receberão uma remuneração de meio salário mínimo (R$759).

Os resultados do Mão Amiga falam por si: desde sua criação, 551 pessoas foram atendidas, com encaminhamentos para clínicas de desintoxicação e comunidades terapêuticas. Destas, 269 retornaram ao convívio familiar e ao mercado de trabalho, e outras 98 ainda estão em tratamento. Apenas cerca de 40 pessoas seguem em situação de rua, sob monitoramento contínuo.

Nas redes sociais, o prefeito João Rodrigues tem defendido o programa como resposta efetiva ao problema. Segundo ele, o município está “retirando pessoas das ruas, da dependência química, pagando tratamento, promovendo reintegração familiar e profissional”, além de lançar as “Frentes de Trabalho do Programa Mão Amiga”, com capacitação e entrega de kits para quem quiser empreender.

Chapecó entendeu o que outros municípios ainda relutam em aceitar: a população em situação de rua não é um problema de segurança, mas uma questão social urgente, que exige política pública robusta, integrada e humanizada.

Não há mais espaço para discursos moralistas ou abordagens higienistas. A realidade está diante dos olhos de todos — e ela exige ação. A omissão tem consequência: o agravamento da exclusão, o impacto urbano, a perda de vidas.
Chapecó demonstrou que é possível fazer diferente. Agora, cabe aos demais municípios de Santa Catarina e ao próprio governo estadual assumirem sua responsabilidade. Não se trata de copiar modelos, mas de assumir o dever de cuidar.

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