Crise no Progressistas: a solução é olhar para o exemplo que vem do Oeste
Um dos mais tradicionais partidos de Santa Catarina tem expostas divisões internas depois da destituição da presidente da juventude do partido

Por mais que o Progressistas insista em manter sua cúpula em compasso de espera, a lição vem do Oeste catarinense. Pinhalzinho e Maravilha são hoje exemplos de que a renovação política, quando feita com critério e coragem, pode recolocar um partido em rota de crescimento. Nos dois municípios, o Progressistas ousou: deixou em segundo plano nomes históricos do partido, apostou em quadros jovens e socialmente engajados — e colheu resultados.
Em Pinhalzinho, a vitória em chapa pura que não ocorria desde 1988 mostra que o eleitor responde bem quando percebe coerência e autenticidade. Maravilha, por sua vez, reforçou a força de novas lideranças e colheu sucesso nas urnas.
Porém, enquanto a base se movimenta e planta o futuro, a executiva estadual provisória parece parada no tempo. O presidente Leodegar Tiscoski e o secretário-geral Aldo Rosa, figuras históricas importantes, caminham na contramão do desejo de parte significativa da militância e da bancada estadual.
Com o foco já voltado para as eleições de 2026, defendem apoio ao governador Jorginho Mello (PL), em oposição ao grupo de deputados estaduais que prefere discutir uma eventual aproximação com João Rodrigues (PSD). O que deveria ser uma construção estratégica virou uma disputa interna — e, pior, sem mediação.
Enquanto isso, o Progressistas assiste sua influência política definhar. Não há hoje no horizonte do partido uma liderança estadual com projeção nacional. Nenhum nome novo foi trabalhado para ocupar esse espaço simbólico deixado por Esperidião Amin.
A filiação de figuras como o ex-deputado Coronel Armando, hoje no PL, soa mais como aceno à sobrevivência institucional do que como gesto estratégico de futuro.
A proposta de federação com o União Brasil, que poderia significar fôlego e articulação nacional, parece mais uma tábua de salvação do que um pacto programático real. Não é disso que o partido precisa — o que falta é uma revisão estrutural e uma reconexão com a base.
Crise aberta na Juventude Progressista
A crise não se restringe à cúpula: respinga nas bases organizadas do partido. A destituição da então presidente da Juventude Progressista, Jayana Nicaretta da Silva — ex-secretária nacional da Juventude no governo Bolsonaro — foi tratada de forma autoritária.
A decisão foi tomada unilateralmente pela executiva estadual, sem convenção, e escancarou a fragilidade democrática interna. A tentativa de nomear o prefeito de Maravilha, Vinícius Ventura, como substituto, foi publicamente rejeitada por ele próprio. O prefeito recusou o cargo pelas redes sociais, justamente por entender que o processo foi ilegítimo.
Convenção prometida, mas nunca realizada
Leodegar Tiscoski ocupa o cargo de presidente provisório desde 11 de novembro de 2023. Já se passaram dois anos sem que a prometida convenção tenha acontecido. Mais de 450 filiados, incluindo os três deputados estaduais, assinaram um abaixo-assinado exigindo a realização do processo democrático de escolha.
A resposta da executiva? Uma nota protocolar em rede social, afirmando que “a convenção será realizada no momento em que houver disposição clara para que ela seja um instrumento de união”. União não se impõe — se constrói. Um partido político se encolhe quando se afasta das bases, dos jovens, das mulheres e de qualquer possibilidade real de reinvenção.
Hora da autorreflexão
O Progressistas tem história, tem quadros relevantes e uma memória afetiva que ainda ressoa em muitas regiões de Santa Catarina. Porém, demonstra sinais de um modelo cansado. Sua executiva precisa entender que o tempo da provisória já passou.
A renovação não é mais uma escolha: é condição de sobrevivência.
Enquanto Pinhalzinho e Maravilha apontam o caminho, a cúpula estadual parece insistir em autopreservação de memória. Entretanto, se quiser voltar a ter relevância no cenário político catarinense, o Progressistas precisa parar de temer o novo e começar a ouvir de verdade quem quer — e pode — construir o futuro.