Rádio Centro Oeste

Eleições no PT: o nó do acordo é quem assume por primeiro

Rueda e Ciro ajustam direção do União Progressistas; Federação do Cidadania com o PSB terá repercussões em Santa Catarina

14/07/2025, 18:40
Atualizado há 1 dia
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Por Fabiano Rambo
Luciane e Fabiano foram os mais votados no PED (Foto: Divulgação)Luciane e Fabiano foram os mais votados no PED (Foto: Divulgação)

Num movimento que busca preservar a unidade interna e mirar em um projeto estratégico de médio prazo, lideranças do PT de Santa Catarina articulam um acordo para evitar o segundo turno da eleição que definirá a nova presidência estadual do partido.

A proposta, formulada pelos deputados estaduais Padre Pedro Baldissera e Neodi Saretta, será apresentada nesta segunda-feira (14) aos candidatos Luciane Carminatti e Fabiano da Luz, que disputam o segundo turno do Processo de Eleição Direta (PED).

A ideia central do acordo é o compartilhamento do comando do PT catarinense pelos próximos quatro anos: dois anos sob a liderança de um, dois anos sob a liderança do outro. A executiva estadual também seria composta por consenso, com base na proporcionalidade dos votos obtidos no primeiro turno, contemplando todas as correntes internas do partido.

Fabiano da Luz já sinalizou positivamente à proposta de unidade. No entanto, o principal ponto de tensão ainda em aberto é a definição de quem comandará o partido primeiro. A decisão tem peso estratégico: o presidente do PT em 2026 terá papel central na coordenação das chapas majoritárias e proporcionais, além de influenciar diretamente na composição de alianças e na tática eleitoral do partido no estado.

A leitura entre aliados é de que Luciane e Fabiano podem ter visões distintas sobre os rumos do partido nas eleições de 2026 — o que torna a ordem de presidência um tema sensível na negociação.

“Esse acordo tem como objetivo fundamental garantir a unidade partidária, com o compartilhamento do comando em dois períodos e a não realização do segundo turno”, afirmou o deputado Padre Pedro, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno do PED, realizado no último dia 6.

Para Neodi Saretta, que também atua como articulador da proposta, o gesto é um esforço de responsabilidade política diante da conjuntura estadual e nacional.

“Queremos unificar o PT, fortalecer o projeto de reeleição do presidente Lula e construir uma chapa forte para disputar o governo do estado e o Senado em 2026”, destacou.

O atual presidente estadual do PT, Décio Lima — hoje presidente nacional do Sebrae — já foi informado sobre os termos do acordo.

Se o entendimento avançar e a decisão sobre quem assume primeiro for pacificada, o PT de Santa Catarina pode sair do PED com um sinal claro de maturidade política e coesão estratégica. Em tempos de fragmentação partidária, uma trégua construída no diálogo pode ser a principal vitória do momento.

Rueda e Ciro ajustam direção do União Progressistas

O presidente do União Brasil, Antonio Rueda, deve assumir o comando da federação União Progressista, formada com o Progressistas (PP). A formalização do cargo deve ocorrer assim que a aliança for homologada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a expectativa é que Rueda permaneça à frente da federação por um mandato de quatro anos.

Embora a Justiça Eleitoral ainda não tenha prazo definido para aprovar os documentos da federação, a previsão é que União Brasil e PP protocolem o pedido em agosto, com expectativa de que o processo seja concluído em cerca de dois meses.

Nos bastidores, integrantes da cúpula dos dois partidos afirmam que o cargo de presidente da federação terá um peso mais simbólico do que decisório. Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, deve participar da tomada de decisão.

As divergências internas levaram à proposta de uma "cogestão" entre Rueda e Ciro, modelo que ainda orienta os termos do acordo. Antes mesmo do lançamento, chegou a circular o nome de Arthur Lira (PP-AL) como possível presidente do grupo, mas a articulação não prosperou.

Cidadania busca federação com o PSB

Ao buscar abrigo no PSB, partido hoje integrante da base do governo Lula, o Cidadania se afasta do posicionamento mais independente que tentou sustentar nos últimos anos. A mudança pode até fazer sentido em Brasília, onde os interesses são legislativos, mas tende a provocar atritos nos diretórios estaduais, sobretudo nas regiões em que o lulismo ainda encontra resistência.

Essa virada pode funcionar no papel, mas certamente enfrentará resistência nos estados onde o PT é adversário histórico. Em Santa Catarina, um exemplo emblemático é o de Carmen Zanotto, prefeita de Lages (SC) e uma das principais lideranças do Cidadania no Sul do país. Com perfil técnico e alinhamento à centro-direita, Carmen dificilmente aprovaria uma aproximação com o campo da esquerda lulista. Nessa conjuntura, sua saída do partido parece uma possibilidade real — e pode não ser a única.

Comte Bittencourt, presidente nacional da sigla, tenta minimizar os entraves ideológicos e vestir a bandeira da democracia como valor comum entre PSB e Cidadania. Mas o discurso genérico perde força quando confrontado com a realidade eleitoral: os palanques estarão divididos em 2026, e quem estiver federado estará comprometido com alianças nacionais — goste ou não.

Enquanto o PSDB costura sua própria sobrevida em articulações com MDB e Republicanos, o Cidadania corre o risco de se esvaziar nos bastidores. A federação com o PSB pode dar sobrevida à legenda no Congresso, mas à custa de perder quadros importantes nos estados. O dilema entre sobrevivência institucional e coerência política nunca foi tão evidente.

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