Negociação com EUA avança a passos lentos, enquanto setor produtivo alerta para risco de colapso comercial
Amin integra comitiva de senadores aos Estados Unidos; Praças de Santa Catarina poderão chegar a patente de capitão

Em meio à escalada da tensão comercial com os Estados Unidos, o ritmo das ações diplomáticas do Brasil está muito aquém da urgência imposta pelos empresários brasileiros. A iminente imposição de tarifas de 50% sobre produtos nacionais preocupa o setor industrial, especialmente em estados com forte vocação exportadora, como Santa Catarina.
Na semana passada, uma comitiva da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), liderada pelo presidente Mário Cezar de Aguiar, reuniu-se com o vice-presidente Geraldo Alckmin para pedir que o Governo Federal adote uma postura pragmática: evitar retaliações e buscar o diálogo direto com Washington.
Aguiar vê com preocupação a possibilidade de uma resposta espelhada por parte do Brasil. Para ele, diferentemente da China, o país não tem musculatura suficiente para enfrentar os Estados Unidos em uma guerra tarifária. É fundamental envolver o Congresso Nacional nesse processo. Trata-se de uma questão estratégica e política, que exige articulação institucional e não apenas medidas técnicas.
Até agora, a resposta do governo brasileiro tem se limitado ao envio de correspondências diplomáticas à administração Trump – todas sem retorno.
“Consideramos essa postura excessivamente tímida. Já era hora de termos representantes de alto escalão atuando diretamente em território norte-americano para buscar uma solução mais efetiva”, pontuou Aguiar.
A lentidão do governo brasileiro em reconhecer a gravidade da situação preocupa. A embaixadora do Brasil nos EUA deve iniciar apenas nesta semana um esforço mais direto de interlocução com a equipe de Donald Trump. O presidente Lula, por sua vez, está em visita ao Chile, e delegou ao vice-presidente Alckmin a condução do tema – reforçando a percepção de que a crise comercial ainda não foi tratada com a devida prioridade.
Santa Catarina exporta cerca de US$1 bilhão por mês para os Estados Unidos, e a adoção de tarifas dessa magnitude terá impacto imediato no emprego, no crescimento econômico e na competitividade das empresas catarinenses. Por isso, empresários locais buscam acionar seus parceiros e stakeholders norte-americanos para alertá-los: todos sairão perdendo com uma escalada tarifária.
Amin integra comitiva de senadores aos Estados Unidos
Em meio à crescente tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos, o senador Esperidião Amin (PP/SC) será um dos oito parlamentares brasileiros que embarcam para Washington nos próximos dias com uma missão estratégica: abrir diálogo direto com o Congresso norte-americano e tentar barrar a taxação de 50% sobre produtos importados — medida que impacta em cheio o setor produtivo nacional, especialmente as exportações brasileiras.
A comitiva pretende demonstrar às autoridades americanas que, além de ameaçar empregos e investimentos no Brasil, a medida também pode gerar prejuízos à própria indústria norte-americana, que depende de matérias-primas brasileiras para abastecer suas cadeias produtivas.
“Nosso objetivo é construir pontes e não muros”, sintetiza Amin, ao destacar que a postura brasileira será de firmeza, mas também de diplomacia técnica. O grupo aposta no diálogo institucional para evitar o agravamento da crise e encontrar soluções que reequilibrem o comércio bilateral sem gerar novos atritos geopolíticos.
Praças de Santa Catarina poderão chegar a patente de capitão
Uma articulação na Alesc resultou em uma vitória considerada histórica pelos praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina. Com a aprovação do Projeto de Lei Complementar que cria os cargos de militares temporários — 2 mil para a PM e 2,6 mil para o CBM —, uma emenda substitutiva global ampliou o impacto da proposta ao permitir que os praças possam progredir até o posto de capitão, já no quadro de oficiais.
A medida representa um marco simbólico e prático na antiga reivindicação por carreira única entre os militares estaduais, bandeira prioritária da Aprasc (Associação de Praças de SC). Segundo lideranças do movimento, o novo modelo corrige distorções e reconhece, na prática, o papel dos praças como pilares da segurança pública. Em âmbito nacional já existe uma legislação que prevê esta evolução na carreira (Lei 14.751). Santa Catarina ainda não havia feito essa alteração.
A articulação contou com o envolvimento direto do presidente da Aprasc, Clailton Oliveira, e com o apoio estratégico dos deputados estaduais Jesse Lopes e Sargento Lima, ambos do PL. Nos bastidores da Assembleia Legislativa, o movimento teve o aval do Governo do Estado, o que reforçou o peso político da mudança — e também causou reações.
A Acors (Associação dos Oficiais de SC) reagiu com desconforto à aprovação da emenda. Em nota oficial, a entidade afirmou que "não há necessidade de implementação do Quadro de Oficiais Especial (QOE) em Santa Catarina, eis que acarretará discussões quanto às atribuições dentro da caserna”. A declaração explicita o atrito entre os dois segmentos da estrutura militar catarinense, agora em lados opostos de um novo arranjo institucional.
Apesar das divergências, o resultado foi celebrado pelos praças como um avanço inédito em décadas de debates. Para a Aprasc, trata-se do primeiro passo concreto rumo a um modelo de ascensão baseado no mérito e na experiência, dentro de uma lógica mais democrática de progressão de carreira.