PT de Santa Catarina: entre o resgate da combatividade e o apelo ao centro
Três candidaturas a presidente do PT são do Oeste

A eleição para a nova executiva estadual do Partido dos Trabalhadores em Santa Catarina levanta uma questão central: o PT deve retomar sua essência combativa ou caminhar rumo ao centro político? Cinco nomes com trajetórias distintas estão na disputa para presidir a sigla, que ainda celebra o feito de ter levado Décio Lima ao segundo turno nas eleições estaduais de 2022.
Concorrem à presidência os deputados estaduais Fabiano da Luz, Padre Pedro Baldissera e Luciane Carminatti, além dos vereadores de Florianópolis Carla Ayres e Bruno Ziliotto. A eleição petista possui características únicas: todo filiado pode votar e ser votado, bastando manifestar interesse. Além disso, a composição do diretório é proporcional à votação das chapas, permitindo uma executiva representativa das diferentes correntes internas do partido.
Perfis e tendências
Fabiano da Luz é visto como representante de uma vertente mais progressista do partido, embora enfrente resistência de setores mais combativos do partido. Ainda assim, destaca-se por seu bom diálogo com a juventude e pela comunicação criativa nas redes sociais — frequentemente usando o humor para criticar o governo estadual e defender posições do governo Lula.
Luciane e Padre Pedro tem bases eleitorais distintas. A deputada é forte entre os docentes. Já Baldissera tem estrutura de seis mandatos na Alesc. Os vereadores de Florianópolis, nas rede sociais, apostam em pautas sociais, bem alinhadas as bases de esquerda.
Luciane Carminatti e seus apoiadores dentro do partido (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
No PT, as correntes internas convivem desde a fundação e o PED (Processo de Eleições Diretas) é mais do que uma ferramenta democrática: é um mecanismo de organização e alinhamento interno, fundamental para garantir representatividade e manter o partido coeso.
Desafios de comunicação e identidade
Apesar de sua tradição em mobilização de base, o PT enfrenta hoje o desafio de se reinventar. A comunicação partidária perdeu força diante das transformações nas redes sociais e da desconfiança gerada pelos escândalos nas gestões federais anteriores. Faltou renovação — tanto nas lideranças quanto nas estratégias.
O partido, que antes dominava o discurso combativo com pautas claras, agora falha em se conectar com a sociedade brasileira atual. Insiste em modelos antigos de mobilização e parece não compreender as novas dinâmicas de engajamento popular.
O cenário catarinense
Santa Catarina é um estado de direita. Não é percepção. É voto na urna. A ida de Décio Lima para o segundo turno e 2022 foi possível graças a polarização e a divisão do centro com três candidaturas. Sobrou as pontas. Para o catarinense foi fácil escolher Jorginho Mello (PL).
Hoje, as mais expressivas lideranças petistas ainda emergem do Oeste catarinense. Todos os deputados estaduais da sigla vêm dessa região, sustentados por uma atuação forte de movimentos sociais e pelo trabalho de base que mantém vivo o capital político da legenda.
Curiosamente, no PED deste ano, a disputa será regionalmente interna: Oeste contra Oeste. Mas os modos de atuação e as pautas defendidas por Fabiano da Luz, Luciane Carminatti e Padre Pedro Baldissera são bastante distintos. A principal missão da nova executiva será justamente unificar essas diferenças internas para construir uma estratégia sólida rumo a 2026 — um pleito que exigirá muito mais do que foi feito em 2022.
O PT catarinense vive um momento decisivo: ou encontra um novo caminho de reconexão com a sociedade, renovando seu discurso e suas lideranças, ou corre o risco de permanecer à margem da disputa política estadual. A eleição interna pode ser o primeiro passo rumo a esse novo ciclo — mas só se for acompanhada de autocrítica, inovação e unidade.