Quando a espera custa vidas
País precisa aumentar investimento no SUS, urgentemente

O falecimento do senhor João Maria Teixeira Machado, de 54 anos, após uma longa espera por atendimento no Pronto Socorro do Hospital Regional do Oeste (HRO), expõe com brutal clareza um drama recorrente: o colapso silencioso da saúde pública se algo urgente não for feito.
Classificado como risco amarelo pelo protocolo de Manchester – que estipula até 50 minutos de espera, João foi atendido por um médico apenas às 16h59, quase três horas após a entrada na unidade, pouco antes das 14h. A dor de quem aguarda já é em si insuportável. Mas, quando essa espera se transforma em tragédia, é o sistema que sangra.
A direção do HRO afirma que uma investigação será aberta para apurar se houve negligência. Contudo, independentemente do resultado, a realidade já é conhecida por quem depende do SUS: superlotação, equipes insuficientes e exaustas, além de estruturas à beira do esgotamento, principalmente nos fins de semana. O caso do senhor João, infelizmente, pode não ser isolado. Este somente repercutiu e isso torna tudo ainda mais alarmante.
A boa notícia: está em curso uma reforma no pronto atendimento no HRO, com investimento estadual de R$6 milhões, que promete aumentar em 50% a capacidade de atendimento. Mas ampliar paredes não basta. Sem mais profissionais capacitados, a equação da espera continuará desbalanceada. Em 2024, foram mais de 50 mil atendimentos no PS do HRO – um número que pressiona qualquer estrutura.
O Brasil investe cerca de 4% do PIB em saúde pública. Uma cifra que empalidece diante dos 25% da Inglaterra ou dos 12% da França. O resultado? Salas de espera lotadas, profissionais sobrecarregados e pacientes à deriva. O SUS é uma conquista brasileira e precisa ser tratada como tal: com responsabilidade, gestão e investimento real.
A morte de João Maria Teixeira Machado não pode ser apenas mais um dado no prontuário. Deve ser um chamado à ação. O tempo, quando se fala de saúde, é vida – e ele está acabando.