A conta das tarifas americanas sobre a indústria catarinense
Pesquisa da Fiesc aponta que 70% das empresas respondentes registraram queda nos pedidos

A nova rodada de tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros reacende uma preocupação antiga: o custo do protecionismo global para as economias regionais. Em Santa Catarina, essa fatura já começa a ser paga.
Dados da mais recente pesquisa da FIESC mostram que o impacto das medidas norte-americanas sobre a indústria catarinense é direto, imediato e preocupante. Quase 70% das empresas já registraram queda no volume de pedidos, 53% suspenderam embarques, 38% renegociaram preços e 17% recorreram a férias coletivas, tudo isso antes mesmo de as tarifas entrarem plenamente em vigor.
A previsão de queda no faturamento nos próximos seis meses é expressiva: 51,2% das empresas esperam recuo superior a 30%. Outras 21,7% projetam perdas entre 10% e 20%, e 20,9% estimam queda de até 10%. O impacto direto na capacidade de pagamento também preocupa: as indústrias catarinenses já relatam dificuldade para honrar compromissos com fornecedores e credores — com pequenas empresas entre as mais afetadas no curto prazo.
Santa Catarina é um dos estados mais internacionalizados do Brasil e, por isso mesmo, um dos mais vulneráveis a oscilações externas. A política tarifária dos EUA não atinge apenas a indústria catarinense, mas nela encontra um alvo especialmente sensível.
Estados como Mato Grosso e Goiás, fortemente voltados ao agronegócio com foco na Ásia, têm estrutura menos exposta ao mercado norte-americano. São Paulo, por sua vez, equilibra seu peso industrial com forte consumo interno e redes diversificadas de exportação. Em contrapartida, Santa Catarina concentra sua força exportadora em setores industriais como móveis, têxteis, plásticos e madeira, muitos dos quais não estão na lista de produtos isentos das novas tarifas.
A ausência desses produtos na lista de isenções aumenta a pressão. A presidente da Câmara de Comércio Exterior da FIESC, Maria Teresa Bustamante, alerta que, embora haja uma longa lista de exceções, a situação dos exportadores catarinenses precisa ser avaliada caso a caso. Esse processo, porém, é lento, técnico e burocrático — e o tempo, neste caso, joga contra os pequenos e médios negócios.
A crise não é apenas contábil: 29% das empresas estimam demissões acima de 30% de seus quadros funcionais nos próximos meses. Apenas 21% garantem que não devem demitir. A consequência é social e imediata.
A região do Planalto Norte é a mais exposta às exportações para os EUA (42,5%), seguida por outras regiões menos dependentes, como a VP Oeste (8,7%) e a VP Extremo-Oeste (5,6%). Essa disparidade regional reforça a importância de diversificar mercados e reduzir a concentração em poucos destinos.
O cenário exige resposta urgente — e coordenada. O governo federal precisa intensificar os esforços diplomáticos e técnicos junto aos EUA, buscando rever a aplicação de tarifas, defender os interesses do setor produtivo brasileiro e garantir que as negociações comerciais não sejam engolidas por interesses eleitorais ou geopolíticos.
Ao mesmo tempo, o governo estadual, federações empresariais e parlamentares devem trabalhar de forma articulada para ampliar canais de negociação e buscar alternativas logísticas, comerciais e jurídicas para atenuar os efeitos das medidas.
Santa Catarina construiu, com esforço e inovação, uma indústria com padrão internacional. Mas nenhum estado — por mais competitivo que seja — consegue resistir sozinho à mudança repentina das regras do jogo. O que está em risco, agora, é a sustentabilidade de cadeias produtivas inteiras e o emprego de milhares de catarinenses.
As negociações com os EUA precisam continuar com firmeza, constância e estratégia. Defender os exportadores catarinenses não é um gesto de proteção local — é uma medida de bom senso econômico nacional.