CGE entrega relatório de possíveis irregularidades no Universidade Gratuita
Mudanças na liderança dos Poderes em Santa Catarina; deputados do Oeste participam de missão a Ásia; Carlos Bolsonaro senador: uma afronta a inteligência do catarinense

É um alívio – e uma obrigação – ver o poder público finalmente agir com firmeza diante das suspeitas que rondam o Programa Universidade Gratuita. A Controladoria-Geral do Estado (CGE) entregou à Polícia Civil de Santa Catarina, na última sexta-feira (13), um relatório técnico que aponta possíveis irregularidades no acesso ao programa, considerado uma das mais promissoras políticas públicas educacionais do estado.
A base da investigação: cruzamento de dados públicos que revela inconsistências nas declarações de candidatos beneficiados. Em outras palavras, há indícios de que a porta da gratuidade pode ter sido arrombada por quem não deveria ter entrado.
O que se espera, agora, é um aprofundamento sério e técnico dessas apurações. Como bem pontuou o controlador-geral do Estado, Freibergue Rubem do Nascimento, “a investigação não se faz apenas de forma virtual”. É preciso ir a campo, verificar presencialmente, apurar com responsabilidade e – acima de tudo – com transparência. A sociedade tem o direito de saber quem está burlando o sistema, e o Estado tem o dever de proteger cada centavo destinado à educação de quem mais precisa.
CGE, SED e Polícia Civil atuam juntas para investigar possíveis irregularidades em programas estaduais
É inegável: o Programa Universidade Gratuita tem potencial transformador. Já vem mudando a trajetória de milhares de jovens catarinenses que, sem ele, talvez jamais teriam ingressado no ensino superior. Mas para continuar sendo uma política pública justa e eficaz, é indispensável que seja blindada contra fraudes.
Qualquer brecha vira traição aos que realmente dependem da bolsa para estudar. E, mais do que isso, se não houver reação rápida e punitiva, a desconfiança pode corroer uma das poucas pontes de acesso à mobilidade social.
A criação de um grupo de trabalho para acompanhar a investigação e a expectativa pela divulgação do relatório do Tribunal de Contas do Estado mostram que há, ao menos por ora, disposição para agir com celeridade e integração. Que essa união de esforços não esbarre em interesses políticos ou manobras para proteger eventuais fraudadores.
Se confirmadas as irregularidades, os responsáveis devem ser punidos com rigor: perda das bolsas, devolução dos recursos e responsabilização civil e criminal. A lei existe para proteger o bem comum – e, nesse caso, o bem é coletivo e urgente.
O acesso à universidade gratuita precisa ser defendido com a mesma força com que foi criado. Porque o que está em jogo não é apenas um programa: é o futuro de milhares de estudantes catarinenses.
Mudança de comando e o simbolismo do Poder Judiciário
Com o governador Jorginho Mello (PL) em missão oficial na Ásia e a vice, Marilisa Boehm, na Europa acompanhando representantes da ACAFE, o Estado de Santa Catarina foi entregue – temporariamente – às mãos do Judiciário. Na última sexta-feira (13), o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Francisco José Rodrigues de Oliveira Neto, assumiu o comando do Executivo estadual. E esse gesto não é mero protocolo: é um sinal claro de respeito e reconhecimento à força institucional do Poder Judiciário catarinense.
Logo nas primeiras horas à frente do governo, Oliveira Neto mostrou presença: participou da abertura da Feira da Esperança, entregou ponte em Itajaí, acompanhou a inauguração da primeira etapa do Hospital Unimed e, nesta segunda-feira (16), esteve na abertura da ExpoSuper, em Balneário Camboriú. Mostrou que interinidade não significa passividade.
Enquanto isso, Marilisa Boehm percorre a Europa em um momento sensível para o Programa Universidade Gratuita – uma das principais vitrines sociais do governo. A missão internacional ocorre à sombra de denúncias de irregularidades no programa, agora alvo de investigação da Polícia Civil.
Padre Pedro no comando da Alesc
Na Assembleia Legislativa, também houve reconfiguração temporária. Durante 13 dias, o comando da Alesc ficará com o segundo vice-presidente, deputado Pedro Baldissera (PT), já que o primeiro vice, Fernando Krelling (MDB), acompanha a comitiva catarinense na Ásia. Júlio Garcia (PSD) pediu licença por motivos pessoais.
Deputados no Japão e China, reflexões por aqui
Os deputados do Oeste, Mauro De Nadal (MDB) e Fabiano da Luz (PT) integram a missão do governador à China e ao Japão. Nas redes sociais, De Nadal compartilhou seu espanto positivo com a mobilidade asiática: um trem-bala faz 1.200 km em três horas. Por aqui, fica o contraste gritante – e a pergunta incômoda: quando Santa Catarina dará o salto que precisa?
Santa Catarina não se curva a heranças políticas
O que realmente preocupa – e revolta – é o movimento nos bastidores para tentar empurrar Carlos Bolsonaro (PL), vereador do Rio de Janeiro, como candidato ao Senado por Santa Catarina em 2026. É uma afronta direta à identidade política e à autonomia do eleitor catarinense.
Carlos Bolsonaro atualmente é vereador no Rio de Janeiro (Foto: Alan Santos/PR)
O estado já engoliu Jorge Seif (PL) em 2022, eleito na crista da onda bolsonarista, sem raízes locais. Desde então, Seif tem feito esforços para mostrar serviço, mas ainda carece de identidade construída com o povo catarinense – algo que não se conquista por sobrenome, mas por presença, entrega e história.
Pior: por ter sido eleito sob a tutela da família Bolsonaro, Seif já foi tratado como “peão” político, e sua vaga – inclusive – segue sendo discutida judicialmente, o que enfraquece a legitimidade da representação.
Santa Catarina não tem dono. E tem memória.
Santa Catarina pode ser conservadora, mas não é capacho de dinastias políticas. A tentativa de impor um herdeiro carioca como senador é uma afronta à inteligência dos eleitores e um desrespeito à história do estado. Santa Catarina quer representantes, não importados. Líderes, não marionetes. Projeto de poder que tenta manipular os catarinenses como massa de manobra será rechaçado nas urnas – como já foi no passado.
O estado é feito de autonomia, trabalho e orgulho. E não cabe como peça no xadrez de ninguém.