
A proposta de mudar o hino de Santa Catarina, apresentada como um gesto de modernização por parte da base governista, foi arquivada nesta terça-feira (28) pela Comissão de Constituição e Justiça da Alesc. A decisão, embora técnica, traz consigo uma discussão que vai além da letra e da melodia: fala sobre o lugar da tradição, da memória coletiva e da disputa simbólica sobre o que representa ser catarinense.
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC), de autoria do deputado Ivan Naatz (PL) e apoiada pelo governador Jorginho Mello (PL), previa um concurso público para reescrever a letra do hino estadual. O argumento central do autor era simples “a população não compreende o atual hino”.
Mas a simplicidade do argumento não resistiu ao peso da história. A maioria dos parlamentares aprovou o voto contrário do deputado Fabiano da Luz (PT), que classificou a mudança como desnecessária e inconstitucional.
“Temos vários problemas prioritários enquanto debatemos a mudança de um símbolo histórico de Santa Catarina”, afirmou.
Para Fabiano, a falta de compreensão da letra poderia ser resolvida na sala de aula, e não com a substituição do hino. A educação, e não a reformulação de símbolos, seria o caminho para preservar o valor histórico e cultural de uma canção que fala sobre abolição, bravura e diversidade.
“Um pequeno grupo não pode determinar a mudança de um símbolo estadual só porque ele fala sobre abolicionismo. O nosso hino mostra a diversidade do nosso povo”, reforçou o parlamentar.
(Foto: Jeferson Baldo/Agência AL)A tramitação da PEC foi marcada por tentativas de adiamento — com sucessivos pedidos de vista de deputados governistas —, mas, no fim, a Comissão seguiu o parecer contrário de Fabiano da Luz, encerrando o processo legislativo.
No debate anterior sobre a mudança do hino — que já havia sido rejeitada em legislaturas passadas —, discutiu-se que alterar o texto não seria apenas um ajuste estético. Seria revisitar o sentido de pertencimento e o papel da história no presente.
Símbolos como o hino, a bandeira e o brasão conectam gerações e traduzem a pluralidade de um Estado que nasceu de influências indígenas, africanas e europeias. O argumento de que “ninguém entende a letra” acaba, segundo críticos, desconsiderando o valor educativo e o esforço coletivo de interpretar o passado.
Assim, o arquivamento da PEC não apenas encerra uma pauta legislativa. Ele reafirma a permanência de um símbolo que resiste ao tempo e às tentativas de reescrever a memória — lembrando que compreender o hino pode ser menos importante do que compreender o que ele representa.