
O lançamento do Atlas do Serviço Público em Santa Catarina – 2024, realizado nesta terça-feira (04) na Assembleia Legislativa (Alesc), trouxe à tona um debate central sobre o futuro do funcionalismo e o impacto direto na qualidade do atendimento à população.
O estudo, elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em parceria com a Frente Parlamentar em Defesa do Serviço Público e o Fórum Catarinense em Defesa do Serviço Público, mostra que o Estado tem um dos menores índices de servidores públicos do país, o que acende um alerta sobre a capacidade de resposta das instituições diante da crescente demanda social.
De acordo com o levantamento, apenas 4,8% da população catarinense atua no serviço público, enquanto a média nacional ultrapassa 12%. Em 2022, Santa Catarina contava com cerca de 365 mil servidores, número bem inferior ao registrado em estados vizinhos como Paraná (585 mil) e Rio Grande do Sul (663 mil).
Nos últimos dez anos, a população catarinense cresceu 19,6%, mas o número de servidores aumentou apenas 9,6%. Essa disparidade indica um desafio estrutural para a manutenção da qualidade do atendimento em áreas essenciais como saúde, educação e segurança.

Para o deputado Fabiano da Luz, coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Serviço Público, o Atlas é mais do que um diagnóstico estatístico: é um instrumento político de valorização do funcionalismo.
“O estudo mostra que sem concursos, sem valorização e sem planejamento, quem perde é a população. Precisamos enfrentar o discurso que tenta enfraquecer o Estado e lembrar que é o servidor público que garante o funcionamento das escolas, dos hospitais e da segurança”, destacou o parlamentar.
O documento também aponta para o alto nível de escolaridade dos servidores estaduais, com apenas 0,4% possuindo ensino médio, o que demonstra o avanço na qualificação técnica do funcionalismo catarinense.
Embora a redução no número de servidores represente um desafio, o cenário não é totalmente negativo. A adoção de novas tecnologias e ferramentas de inteligência artificial (IA) tem contribuído para ganhos expressivos de produtividade e eficiência na gestão pública.
Sistemas automatizados de atendimento, análise de dados e processos digitais vêm permitindo que prefeituras, secretarias e órgãos estaduais mantenham a qualidade dos serviços, mesmo com equipes menores.
Especialistas apontam que o uso estratégico da tecnologia pode compensar parte da defasagem de pessoal, desde que acompanhado de capacitação contínua e de políticas de valorização humana, evitando que o avanço digital se transforme em sobrecarga para os profissionais que permanecem na ativa.
O lançamento do Atlas ocorre em meio à mobilização nacional contra a PEC da Reforma Administrativa, que é vista por entidades sindicais como uma ameaça aos direitos do funcionalismo e à estrutura do Estado. Outra pauta recorrente é a retirada do desconto de 14% dos aposentados do serviço público catarinense, considerada uma das principais reivindicações da categoria.
Ao reunir dados e reflexões sobre o papel do Estado, o Atlas do Serviço Público propõe uma discussão mais ampla: como garantir um serviço público eficiente, tecnológico e humano ao mesmo tempo? A resposta parece estar no equilíbrio entre inovação e valorização — entre o avanço da IA e o reconhecimento do papel essencial do servidor na vida cotidiana dos cidadãos.