
O diagnóstico apresentado pelo Codesul ao Ministério dos Transportes, nesta terça-feira (09), escancara uma realidade há anos conhecida, mas raramente tratada com profundidade: Santa Catarina está entre os estados mais prejudicados pela estagnação da Malha Sul. Embora seja um dos maiores motores logísticos do país, o Estado opera hoje com apenas 17% de seus trilhos ativos, um contraste dramático diante de sua participação estratégica nos fluxos portuários e na indústria de transformação.
Responsável por aproximadamente 20% da movimentação de contêineres do Brasil, Santa Catarina utiliza o modal ferroviário em apenas 6% das cargas portuárias — um índice considerado crítico pelos técnicos do Codesul. A consequência é um quadro já sentido diariamente nas estradas:
O documento alerta que a dependência quase absoluta dos caminhões coloca Santa Catarina em posição estruturalmente frágil, especialmente diante da redução nacional de motoristas profissionais e do envelhecimento da categoria.
Embora reconheça a relevância da nova Política Nacional de Concessões Ferroviárias, o Codesul considera que a proposta federal de dividir a Malha Sul em três concessões independentes é um risco direto para Santa Catarina.

Se o Corredor Paraná–Santa Catarina for separado dos demais, argumentam os estados, o país corre o risco de instituir um modelo “sem escala e sem integração”, que compromete:
Para o bloco, apenas uma concessão integrada permitirá atrair investidores, garantir continuidade operacional e planejar expansões que conectem Santa Catarina aos corredores nacionais de exportação.
O trecho catarinense da Malha Sul, que deveria cumprir papel estruturante, está praticamente limitado a operações pontuais. Dos 1.210 km concedidos, apenas 210 km operam regularmente — cenário que não se justifica para um estado com:
A análise entregue à Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário classifica essa subutilização como um desperdício de potencial logístico e um dos maiores entraves ao desenvolvimento regional.
Entre as ações imediatas, o Codesul propõe medidas que beneficiam diretamente Santa Catarina, como:
No médio e longo prazo, o documento recomenda que projetos ferroviários já autorizados ou em estudo em Santa Catarina sejam incorporados à modelagem federal — transformando o Estado de "ponto cego" a protagonista da expansão ferroviária no Sul.
Para os formuladores do diagnóstico, Santa Catarina enfrenta uma encruzilhada: ou a revisão da Malha Sul finalmente corrige um atraso histórico e integra o Estado ao mapa ferroviário nacional, ou a fragmentação proposta cristaliza a dependência rodoviária e limita o potencial de crescimento portuário e industrial.
A entrega do documento ao Ministério dos Transportes marca a primeira etapa de uma disputa técnica e política decisiva. Para Santa Catarina, o resultado desse debate pode significar a diferença entre manter o ritmo de expansão ou ficar para trás em um país que já vive uma nova corrida pela competitividade logística.