Santa Catarina no escuro: tarifaço dos EUA acende alerta em setores chave da economia
Fiesc lidera mobilização enquanto empresários enfrentam incertezas e risco de crise econômica local

A pouco mais de 72 horas da entrada em vigor das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros impostas pelos Estados Unidos, a indústria catarinense se vê cercada por um cenário de insegurança e ausência de estratégias eficazes do governo brasileiro.
Nesta segunda-feira (28), cerca de 300 empresários participaram de uma reunião online convocada pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) para discutir os impactos imediatos do chamado "tarifaço". O clima predominante foi de urgência — e de frustração.
A avaliação da Fiesc é contundente: falta articulação e capacidade de negociação por parte do Brasil. Enquanto isso, os efeitos já se fazem sentir, mesmo com a medida ainda fora de vigor. Setores como madeira e móveis — dos mais dependentes do mercado americano — registram queda na demanda e crescente pressão para reduzir preços, o que afeta diretamente margens, empregos e investimentos.
Santa Catarina é especialmente vulnerável. Dados da Fiesc mostram que 22% da produção do setor madeira/móveis é direcionada aos EUA. E, como alerta a entidade, diversificar mercados, como sugerem algumas vozes políticas, não é simples — exige certificações internacionais, adaptação de produtos e novos acordos comerciais. Trata-se de um processo de médio a longo prazo, que demanda estrutura e estratégia. Trocar de mercado em dias é desconhecer completamente a realidade do comércio exterior.
Além disso, as regiões com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) serão, segundo a Fiesc, as mais afetadas. No Planalto Norte, 42,5% das exportações vão para os EUA. Na Serra, o percentual é de 22,3%. Já no Centro-Norte, 24,9%, e no Alto Vale, 23,7%. A conta é simples: menos exportações, mais desemprego e empobrecimento.
Diante do vácuo de informações e ações práticas, a Fiesc estruturou uma ampla pesquisa com mais de mil empresas para mapear os efeitos econômicos e sociais do tarifaço. O questionário foi dividido em três eixos:
- Perfil da empresa e exposição ao mercado americano;
- Estrutura financeira e risco cambial;
- Impactos operacionais, fiscais e produtivos.
A meta é clara: obter dados robustos que embasem uma política pública de mitigação — com crédito emergencial, incentivos fiscais e medidas de apoio aos setores mais atingidos.
Entre os pontos já levantados, destacam-se possíveis falências, demissões em massa, operações cambiais em aberto e endividamento em dólar com fornecedores. Ou seja: risco sistêmico.
Enquanto isso, reina a desinformação. Do lado brasileiro, a atuação do governo é considerada pela Fiesc como “inócua” — marcada por inação e descaso. Do lado americano, não há transparência sobre os critérios de aplicação da tarifa. É uma escuridão total em um momento decisivo. Estamos à beira de uma crise econômica e diplomática grave.
A missão dos senadores nos EUA: diagnóstico, não solução
No mesmo dia da reunião da Fiesc, integrantes da Comissão de Relações Exteriores do Senado estavam em Washington. Mas a expectativa de influência junto ao governo Trump praticamente se esvaziou. As conversas, até agora, ocorreram com representantes do setor privado e com a embaixada do Brasil — nenhum contato direto com o governo americano.
A avaliação é que a missão senatorial servirá mais para observar o cenário do que para alterar o rumo das decisões. A economia ficou em segundo plano. O impasse tem viés ideológico, não técnico.
Um país dividido até na diplomacia
No Brasil, o sentimento entre empresários é de desalento. Para muitos, há dois tipos de brasileiros na negociação: os que torcem pelo quanto pior, melhor; e os que não sabem como agir. Ambos alimentam a paralisia. A esperança, por ora, está na força dos dados — e na capacidade de reação rápida de quem realmente tem algo a perder: o setor produtivo.