Na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas às sanções unilaterais impostas pelos Estados Unidos e alertou para o que chamou de “consolidação de uma desordem internacional”. Segundo ele, o avanço do autoritarismo ameaça tanto a soberania dos países quanto a democracia.
“O multilateralismo está diante de nova encruzilhada. A autoridade desta organização está em xeque. Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder, atentados à soberania, sanções arbitrárias. E intervenções unilaterais estão se tornando regra”, afirmou Lula em seu discurso.
O presidente ressaltou que há “um evidente paralelo” entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento democrático em diferentes nações.
“O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente a arbitrariedades. Quando a sociedade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito, as consequências são trágicas”, disse.
Em tom de alerta, Lula citou o crescimento de forças antidemocráticas que, segundo ele, “tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades, cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais e cerceiam a imprensa”. O presidente também destacou que o Brasil, mesmo diante de ataques, escolheu resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos após a ditadura militar.
Sanções dos EUA
As declarações de Lula ocorrem em meio à escalada de tensões diplomáticas com Washington. O presidente se referia às medidas aplicadas pelo governo do ex-presidente Donald Trump, que impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA.
Além do impacto econômico, Lula criticou tentativas de interferência no Judiciário brasileiro. Em julho, Trump aplicou a chamada Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo que apura a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro em um suposto golpe de Estado. A lei, que permite punir estrangeiros acusados de violar direitos humanos, resultou no bloqueio de bens e empresas do magistrado em território norte-americano.
O governo dos EUA também cancelou vistos de diversos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), entre eles Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin.
A tensão aumentou ainda mais ontem (22), quando a Casa Branca anunciou sanções contra a advogada Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes. Em nota, o governo brasileiro disse ter recebido a notícia com “profunda indignação” e garantiu que o país “não se curvará a mais essa agressão”.