Feminicídios e estupros atingem maior nível histórico no Brasil em 2024
Embora o país registre queda nas mortes violentas, dados mostram avanço preocupante na violência de gênero, sexual e policial em 2024

O Brasil registrou 44.127 mortes violentas intencionais em 2024, uma queda de 5,4% em relação ao ano anterior, segundo o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24). Os dados incluem homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte, mortes em intervenções policiais e de policiais fora de serviço. A redução confirma uma tendência de queda observada desde 2018.
Apesar da queda geral, o levantamento revela contrastes preocupantes. A violência contra as mulheres bateu novo recorde com 1.492 feminicídios em 2024, um aumento de 0,7% em relação a 2023. A maioria das vítimas era negra (63,6%) e morta por companheiros ou ex-companheiros dentro de casa. As tentativas de feminicídio também cresceram 19%.
A violência contra crianças e adolescentes também aumentou. Em 2024, houve 2.356 mortes violentas de vítimas de até 17 anos, 3,7% a mais do que em 2023. Crimes como abuso sexual infantil, maus-tratos e abandono de incapaz registraram altas expressivas, com destaque para um crescimento de 14,1% na produção de material de abuso sexual infantil.
O número de estupros também atingiu níveis alarmantes, foram 87.545 registros, o maior número desde o início da série histórica. A cada seis minutos, uma mulher foi estuprada no Brasil. Quase metade dos agressores era da própria família da vítima, e 65% dos crimes ocorreram dentro de casa.
A letalidade policial ainda representa uma parcela significativa das mortes violentas intencionais, 6.243 pessoas foram mortas por policiais em 2024, o equivalente a 14,1% do total nacional. São Paulo teve um aumento de 61% nesse tipo de ocorrência, impulsionado pela Operação Escudo e o fim do uso de câmeras corporais.
O perfil das vítimas de mortes violentas intencionais continua estável, majoritariamente homens (91,1%), negros (79%), jovens de até 29 anos (48,5%) e mortos por armas de fogo em via pública. As dez cidades mais violentas estão todas no Nordeste, com destaque para Maranguape (CE) e Jequié (BA).
Por estado, Amapá, Bahia e Ceará lideram as taxas de mortes violentas intencionais, enquanto São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal têm os menores índices. Regionalmente, Norte e Nordeste ainda concentram as maiores taxas de violência.