
Estimativas inéditas divulgadas nesta terça-feira (02) indicam que os jogos de azar e as apostas online, popularizadas pelas bets, geram ao país prejuízo anual de R$38,8 bilhões. O valor corresponde a impactos sociais como suicídios, desemprego, gastos com saúde, depressão e afastamento do trabalho. O levantamento integra o estudo A saúde dos brasileiros em jogo, produzido pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), pela Umane e pela Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental (FPSM).
Segundo os pesquisadores, 17,7 milhões de brasileiros apostaram em apenas seis meses, e cerca de 12,8 milhões já estão em situação de risco. A projeção de perdas inclui R$17 bilhões por mortes adicionais por suicídio, R$10,4 bilhões pela queda de qualidade de vida com depressão, R$3 bilhões em tratamentos médicos, R$2,1 bilhões em seguro-desemprego, R$4,7 bilhões relacionados ao encarceramento e R$1,3 bilhão com perda de moradia. Desse total, 78,8% estão ligados a custos de saúde.
O estudo destaca que o crescimento acelerado das bets, impulsionado por tecnologia, exposição midiática e baixa regulação, já compromete o endividamento das famílias e agrava quadros de sofrimento mental. Embora a arrecadação tenha alcançado R$8 bilhões até outubro e com projeção de R$12 bilhões no ano, o valor é muito inferior ao impacto estimado de R$38,8 bilhões. Hoje, as bets pagam 12% sobre a receita bruta, podendo chegar a 24% caso o Projeto de Lei 5473/2025 avance.
No Congresso, os danos provocados pelas apostas motivaram a criação da CPI das Bets, que investigou possíveis vínculos com o crime organizado e o impacto no orçamento das famílias, mas teve o relatório final rejeitado. No campo econômico, o estudo aponta que o setor é “irrisório” na geração de empregos: são apenas 1.144 postos formais, e apenas R$1 de cada R$ 291 de receita vira salário. A informalidade chega a 84% entre os trabalhadores.
Inspirado no modelo britânico, o levantamento sugere caminhos como restrições rígidas à publicidade, autoexclusão, aumento da taxação destinada à saúde e regulação dura para as empresas. O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), que representa 75% do mercado legal, critica o aumento de impostos, alegando risco de fortalecimento do mercado clandestino, que hoje concentra mais de 51% das apostas virtuais no país.




