
O hábito de compartilhar notícias e opiniões sobre política em grupos de WhatsApp tem diminuído nos últimos anos, especialmente em conversas de família, amigos e trabalho. Além disso, mais da metade das pessoas que participam desses espaços afirmam sentir receio de se posicionar politicamente, cenário atribuído ao aumento de conflitos e ao tom agressivo das discussões.
A constatação integra o estudo Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens, divulgado nesta segunda-feira (15), elaborado pelo centro independente de pesquisa InternetLab e pela Rede Conhecimento Social, instituições sem fins lucrativos. A pesquisa ouviu 3.113 pessoas com 16 anos ou mais, de todas as regiões do país, entre 20 de novembro e 10 de dezembro de 2024, por meio de coleta online.
Segundo o levantamento, 54% dos usuários de WhatsApp participam de grupos de família, 53% de grupos de amigos e 38% de grupos de trabalho. Já a presença em grupos dedicados a debates políticos é minoritária, apenas 6%, número inferior aos 10% registrados em 2020. Entre 2021 e 2024, também caiu a frequência de mensagens sobre política, políticos e governo nesses ambientes cotidianos.
Nos grupos de família, o percentual de pessoas que afirmam ver mais conteúdos políticos caiu de 34% em 2021 para 27% em 2024. Entre amigos, a redução foi de 38% para 24%, enquanto nos grupos de trabalho passou de 16% para 11%. Depoimentos coletados pelo estudo indicam uma postura de autorregulação, com participantes evitando o tema para preservar relações e evitar desgastes.
O receio em emitir opinião política aparece de forma expressiva. De acordo com a pesquisa, 56% dos entrevistados afirmam ter medo de se manifestar porque consideram o ambiente agressivo. Essa percepção atinge 63% das pessoas que se identificam como de esquerda, 66% das de centro e 61% das de direita. Metade dos respondentes evita falar de política no grupo da família, enquanto 52% dizem se policiar cada vez mais sobre o que compartilham.
Apesar disso, o estudo mostra que ainda há quem se manifeste. Do total, 12% afirmam compartilhar conteúdos que consideram importantes mesmo que gerem desconforto, e 18% dizem se posicionar quando acreditam em uma ideia, ainda que isso possa parecer ofensivo. Entre os 44% que se sentem seguros para falar sobre política no WhatsApp, são comuns estratégias como uso de humor, conversas privadas ou discussões apenas em grupos com visões semelhantes.
Para a diretora do InternetLab e uma das autoras do estudo, Heloisa Massaro, o cenário reflete um amadurecimento no uso do aplicativo. Segundo ela, o WhatsApp está profundamente inserido no cotidiano das pessoas e, ao longo dos anos, os usuários passaram a desenvolver normas éticas próprias para lidar com a comunicação política, especialmente nos grupos, buscando reduzir conflitos e preservar a convivência.










